Como a publicidade pode
utilizar a internet para criar fenômenos “virais”?
INTRODUÇÃO
Desde o surgimento da
internet a publicidade vem buscando a fórmula mais eficiente para divulgar os
produtos de seus clientes usando os diversos formatos de mídia contidos nessa
tecnologia, como blogs, e-mails, redes sociais e etc. Antes de mais nada, é
muito importante entender como cada mídia funciona e então ficará mais fácil
deduzir a melhor maneira de utilizá-la.
Algumas tecnologias causam
mais impacto que outras, mas toda vez que uma nova tecnologia surge e passa a
ser usada por um grande número de pessoas, ela altera o comportamento da
sociedade que a utiliza. Marshall McLuhan trata desse assunto no livro “A
Galáxia de Gutenberg”:
“(...) Qualquer nova tecnologia de transporte ou comunicação tende a
criar seu respectivo meio ambiente humano. O manuscrito e o papiro criaram o
ambiente social o qual pensamos em conexão com os impérios da Antiguidade. O
estribo e a roda criaram ambientes únicos de enorme alcance. Ambientes tecnológicos
não são recipientes puramente passivos de pessoas, mas ativos processos que
remodelam pessoas e igualmente outras tecnologias. Em nosso tempo, a súbita
passagem da tecnologia mecânica da roda para a tecnologia do circuito elétrico
representa uma das maiores mudanças de todo o tempo histórico. (...)”.
Nos dias de hoje, nos
causa estranheza observar uma sociedade que tenha um grande número de
analfabetos em suas fronteiras. É indiscutível o impacto que a prensa causou na
sociedade, assim como o aumento do acesso à cultura gerado por essa tecnologia.
Mais tarde surgiram meios de comunicação de massa, como a TV e o rádio, e
individuais, como o telégrafo, o telefone, o fax, que transformaram o mundo em
uma grande “Aldeia Global”. Agora, a massiva difusão do acesso à internet nos
apresenta uma nova forma de comunicação audiovisual que fatalmente irá impactar
nossa forma de observar e interagir com o mundo. Os estudos sobre esse impacto
ainda estão em seus primórdios, mas, com base nas palavras de McLuhan, podemos
antecipar sua importância:
“(...) Agora na idade da eletricidade, a própria instantaneidade da
coexistência entre nossos instrumentos tecnológicos deu lugar a crise sem
precedente na história humana. As extensões de nossas faculdades e sentidos
passaram a constituir um campo único de experiência que exige se fazer
coletivamente consciente. Nossas tecnologias, à semelhança de nossos sentidos
particulares, exigem agora um intercurso e mútuo relacionamento que torne
possível sua coexistência racional. Enquanto nossas tecnologias foram tão
lentas quanto a roda ou o alfabeto ou o dinheiro, o fato de se terem
constituído sistemas separados e fechados foi, social e psiquicamente,
suportável. Já isto não se pode dar agora, quando a visão, o som e o movimento
são em toda extensão simultâneos e globais.(...)”
Este trabalho visa a apontar algumas formas como a internet vem incentivando comportamentos que podem ser úteis na disseminação de informações específicas para uso publicitário.
SEIS GRAUS DE SEPARAÇÃO
Richard Dawkins cunhou o
termo “meme” para designar uma unidade de informação que se propaga de pessoa
para pessoa. Esse termo, no entanto, tornou-se popular na descrição de um
fenômeno cultural típico das redes sociais. Nesse caso, um meme passa a ser a
denominação de uma informação disseminada e reproduzida através da internet de
indivíduo para indivíduo até tomar dimensões altamente relevantes. Esse
fenômeno também pode ser chamado de “viral”, quando fica evidente que a
propagação da informação deu-se de forma natural, quando um usuário das redes
sociais repassa um vídeo, foto ou texto para seus círculos de amizade e essa
informação se espalha até ser conhecida em múltiplos círculos sem qualquer ligação
ou contato aparente entre si.
As redes sociais não são
apenas exemplos típicos de mídias responsáveis pelo fenômeno de viralização de
conteúdo como são um bom exemplo de como se dá essa viralização. Desde o
começo, os adeptos das redes sociais passaram a se associar a esses meios
através da antiga divulgação “boca a boca”, como o fenômeno viral ou meme era
originalmente chamado. Ou seja, um amigo convidava o outro a participar de uma
rede social, que convidava um próximo e assim por diante até o acesso à rede
social se espalhar e frequentemente se tornar um fenômeno global.
De acordo com “a teoria dos
seis graus de separação”, desenvolvida antes mesmo da popularização das redes
sociais na internet, essa forma de comunicação pode ser extremamente eficiente
já que, teoricamente, estaríamos conectados a qualquer outro ser humano no
mundo, sendo necessárias apenas seis pessoas ligadas por seus círculos de contatos
para realizar a conexão com um alvo específico. Dessa forma, em uma sociedade
extremamente globalizada, todos os indivíduos do planeta seriam capazes de
influenciar as decisões uns dos outros mutuamente. Acredito que seja evidente a
intensificação dessa interligação mundial criada pela expansão no uso da internet.
Essa amplificação na
quantidade e velocidade de contatos cria uma nova forma de sociedade, a
“sociedade virtual”, onde grupos se formam ligados mais por interesses comuns e
culturas afins do que por fronteiras geográficas ou políticas. As implicações desse
processo, no entanto, ainda seguem as mesmas regras de qualquer sociedade
convencional, como foi convencionado por Durkheim
e Aristóteles. Apesar de as relações parecerem ser apenas superficiais em um
primeiro olhar, percebemos em um segundo momento que somos realmente interdependentes
já que usamos a internet para trabalhar, comprar, conseguir oportunidades e
interagir afetivamente como em um ambiente real.
Durkheim
demonstra que em uma sociedade complexa, composta por indivíduos altamente
especializados, como na que vivemos hoje, o ser humano se torna ainda mais
interdependente e incapaz de sobreviver fora dos limites dessa sociedade e da
relação de “solidariedade orgânica”. Portanto, quando dividimos conteúdos pelas
redes sociais, ou e-mails, ou blogs, etc, estamos fortalecendo nossos laços
sociais e criando uma cultura comum aos membros dessa enorme sociedade.
Precisamos, necessariamente, estabelecer signos, ícones, índices, símbolos e
linguagem que se tornem comuns aos membros dessa sociedade virtual para nos
estabelecermos como indivíduos que fazem parte de algo maior. Dentro dessa
sociedade precisamos criar elos e coesão assim como fazemos na sociedade física.
Dividir o
máximo de nossas referências culturais com os membros de nossos círculos de amizade
virtual gera uma maior capacidade de compreensão entre os membros desse
círculo, que passam a compartilhar uma gama maior de símbolos concomitantes,
muitíssimo necessários para todo tipo claro de comunicação. Em outras palavras,
não se pode discutir um determinado assunto se todos os membros envolvidos no
debate não estiverem cientes das referências culturais necessárias para o
enriquecimento da retórica.
Contudo,
dentro de cada círculo de contatos virtuais, cada um de seus membros possui
outros círculos e também desejam construir repertórios comuns dentro deles e
assim por diante. E dessa forma, o fenômeno viral se torna altamente desejável
para toda sociedade virtual mais ampla e aqui esbarramos em um obstáculo que se
torna evidente quando estudamos a semiótica: Para disseminar referências
culturais em uma sociedade tão ampla será necessário que haja uma base
simbólica comum para a compreensão do conteúdo.
REFORÇO POSITIVO
Para que a mensagem se
espalhe de forma tão universal, ela deve gerar interesse universal e causar
empatia instantânea em culturas distantes geograficamente e, portanto,
diferentes em suas origens e com referências culturais distintas e múltiplas.
Fica assim evidente que existe
uma necessidade inata de tornar o repertório cultural de um grande número de
círculos de contatos comum à maioria dos membros de toda sociedade virtual, mas
nem todo repertório divulgado em um círculo irá se propagar. Os membros de cada
círculo irão utilizar as ferramentas disponíveis nas redes como dispositivos de
“reforço positivo” para classificar os conteúdos de maior interesse desde o
círculo de origem até a disseminação por toda a sociedade virtual.
Dessa forma sempre que
aprovamos a iniciativa de um membro de nosso círculo na divulgação de um
conteúdo, estamos incentivando e reforçando essa prática ao recompensar o
componente do círculo com nossa atenção e, dessa forma, acabamos por filtrar
quais conteúdos nos causaram maior interesse, como demonstra Skinner em sua “Teoria do Reforço“. As constantes recompensas
que vêm na forma de demonstrações de aprovação e propagação de uma informação
na sociedade virtual fazem com que os indivíduos dentro dessa sociedade criem,
reproduzam e compartilhem mais conteúdos semelhantes aos que foram bem
recebidos anteriormente.
“Os homens
são felizes em um meio ambiente no qual o comportamento ativo, produtivo e
criativo é reforçado de forma efetiva.”
APROPRIAÇÃO DE SÍMBOLOS UNIVERSAIS
Durante todo o tempo que
passamos em uma rede social nos deparamos com utilização coletiva de ícones da
cultura pop, citações atribuídas a autores amplamente conhecidos, mesmo que
erroneamente, e todo tipo de utilização de imagem de figuras públicas ou de
apelo universal, como imagens de paisagens, bebês, animais, etc, na busca
individual de estabelecer uma comunicação comum com múltiplas camadas da
sociedade virtual, para que assim o indivíduo possa atingir o maior número de
demonstrações de interesse coletivo possível.
Oras. Não seria difícil demonstrar
que os membros desses círculos virtuais se utilizam instintivamente das mesmas
técnicas publicitárias que os impactaram constantemente ao longo de suas vidas.
Contudo, o impacto que um amigo provoca no outro ao utilizar sua rede social
pode ser muito mais intenso que o de um anúncio veiculado por uma agência,
empresa ou comércio, já que não percebemos em nossos amigos a intenção de
lucrar ou obter alguma vantagem ao compartilhar determinada informação a não
ser a de estabelecer uma referência cultural comum.
CONCLUSÃO
Para que a publicidade possa
utilizar essas mídias como ferramenta de divulgação, basta entender como cada
mídia funciona e agir dentro dela da mesma maneira que se agiria para criar um
fenômeno de divulgação boca a boca existente no tempo anterior a essa tecnologia.
Ou seja, através de boatos, degustações e criações que gerem conteúdos de
interesse e linguagens universais, como o humor e o romance. Mas, mais que
isso, é necessário conhecer as opiniões e assuntos em voga na sociedade virtual
para não correr o risco de cometer uma “gafe” e produzir uma campanha que
produza exatamente o efeito contrário do que se espera dela.
Logo abaixo temos o exemplo
de uma boa peça publicitária feita com o propósito de ser divulgada nas redes
sociais. A campanha original busca uma identificação com o público brasileiro
usando um elemento de sua cultura gastronômica; no entanto, essa peça
publicitária somente se tornou um viral devido a um incidente espontâneo. O
representante da empresa, responsável pela divulgação da peça, tinha os
elementos culturais certos para interagir com o cliente e gerar empatia em uma
gama enorme de círculos que compartilham das mesmas referências culturais que
eles. Repare que se você não for um membro desse gigantesco círculo e não
possuir o repertório necessário, você simplesmente não entenderá o que o
diálogo oculta. O que parece ser um convite para um café, na verdade é uma
apropriação de um ícone de cultura pop muito popular no Brasil. Os que entendem
o código secreto por traz do diálogo sentem-se fazendo parte do círculo e não
resistem ao impulso de compartilhar a peça.
(O dialogo da peça reproduz as falas de Prof. Girafales e de Dona Florinda, personagens do popularíssimo seriado "Chaves")
BIBLIOGRAFIA
McLuhan, Marshall, A Galáxia de Gutenberg: A Formação Do Homem Tipográfico: Editora Nacional, 1977.
Dawkins, Richard, O Gene Egoísta. Reino Unido: Oxford University Press, 1976.
Durkheim, Émile, Da divisão do trabalho social, 1893.
Skinner, Frederic, Tecnologia do Ensino, 1972
Meme, http://pt.wikipedia.org/wiki/Meme, 11/04/2014
Semiótica, http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%B3tica, 15/04/2014
A teoria dos seis graus de separação, http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria-dos-seis-graus-de-separa%C3%A7%C3%A3o, 03/04/2014
O conceito de animal político em Aristóteles, http://www.brasilescola.com/filosofia/o-conceito-animal-politico-aristoteles.htm 04/04/2014
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O conceito de animal político em Aristóteles, http://www.brasilescola.com/filosofia/o-conceito-animal-politico-aristoteles.htm 04/04/2014
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